Semana de Moldes 2025: Indústria refletiu mercados, talento e tecnologias

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A Semana de Moldes 2025 confirmou o que as empresas sentem no seu dia-a-dia: o sector enfrenta um momento de mudança, marcado por incerteza económica, pressão tecnológica e urgência de reposicionamento internacional. Ao longo de cinco dias, mais de 800 participantes, 90 oradores e diversas entidades oriundos de 12 países, discutiram caminhos para reforçar a competitividade, ganhar escala e responder a mercados cada vez mais exigentes. Da inovação à diversificação, passando pela escassez de talento, inteligência artificial, novos modelos de negócio e a necessidade de cooperação, emergiu uma convicção central: o futuro será desafiante, mas o cluster português de moldes mantém a sua capacidade de adaptação, visão e colaboração.


O ambiente geopolítico instável, as mudanças estruturais do mercado automóvel (principal cliente), a pressão dos prazos e preços desafiam a indústria de moldes à tomada de decisões estratégicas. A Inteligência Artificial (IA), o fabrico aditivo e a digitalização afirmam-se como pilares da transformação tecnológica, enquanto o papel das pessoas, a formação e o reforço das competências dominam a dimensão organizacional.


Esta foi uma das principais conclusões da Semana de Moldes que, organizada pela CEFAMOL, CENTIMFE e Pool-Net, decorreu entre os dias 24 e 28 de novembro, com diversas ações realizadas na Marinha Grande e Oliveira de Azeméis.


Manuel Oliveira, secretário-geral da CEFAMOL, sublinhou que, a nível de mobilização do sector nesta edição da Semana de Moldes, os números “demonstram que a indústria portuguesa de moldes permanece no centro das atenções internacionais”. “Num período marcado pela incerteza e transformação tecnológica acelerada, a indústria revelou visão e capacidade de cooperação”, afirmou.


João Faustino, presidente da CEFAMOL, destacou que a indústria de moldes enfrenta três desafios centrais que exigem ação coordenada: cooperação, posicionamento e acesso a financiamento. “A cooperação deixou de ser apenas um conceito para se tornar uma ferramenta concreta de crescimento, inovação e acesso a mercados internacionais”, salientou, adiantando que empresas, universidades, centros tecnológicos e instituições públicas precisam de trabalhar em conjunto, partilhando conhecimento e competências, sobretudo em tecnologias avançadas e sectores emergentes. “Só através de projetos colaborativos é possível ganhar escala e entrar em áreas que seriam inacessíveis isoladamente, assumindo cada empresa a responsabilidade de procurar parceiros e explorar novas oportunidades de forma conjunta”, defendeu.



União


Em paralelo, no seu entender, o sector “precisa de reforçar o seu posicionamento estratégico e aprofundar a clusterização, diversificando para áreas como mobilidade, dispositivos médicos, defesa e segurança”. Advertiu que este caminho “depende também do acesso a financiamento, um dos principais bloqueios atuais: margens reduzidas, prazos longos e forte concorrência dificultam o investimento em inovação e reposicionamento”. Apesar do elevado know-how, a indústria necessita de instrumentos financeiros adequados que permitam acelerar a transformação. João Faustino mostrou-se convicto que “será possível desenvolver soluções que reforcem a competitividade e diferenciem o cluster português no contexto internacional”.


Um dos destaques do programa do evento foi a realização da Conferência Internacional ‘Moldes Portugal 2025’, que contou com a participação de oradores nacionais e estrangeiros. Stephan Berz (presidente da ISTMA Europe) foi perentório ao afirmar que a indústria de moldes enfrenta “uma mudança estrutural”. Com quebras globais de 30% a 40%, defendeu que “o molde não é uma commodity” e apelou à união, considerando que “temos de ter força para chegar às OEM”.


Tadahiro Hibata (Moldino, Japão), um dos oradores no debate internacional ‘Fornecedores Globais: Visão sobre Tendências de Mercado’, sublinhou que só há competitividade “pela diferenciação e pelo valor, não pelo preço”. Jens Ludtke (Tebis, Alemanha) reforçou, no mesmo apinel, que o sector “tem de mudar sob pena de desaparecer”. Carlos Teixeira (Cheto, Portugal) alertou para um período “muito crítico”, defendendo resiliência e digitalização.




Mercados


Francisco Cudell (UForce Portugal) classificou o atual momento como “uma oportunidade histórica”, no que diz respeito à importância da indústria da defesa e segurança. Considerando que as empresas têm uma oportunidade ímpar de entrar nessa área, deixou, contudo, o aviso: faltam certificações, escala e consórcios. “Se não nos organizarmos agora, perdemos o comboio”, defendeu.


Já no painel centrado na indústria automóvel, Gonçalo Tomé (CIE-Plasfil) afirmou que “o novo normal é este”. A Europa perdeu peso, a China cresceu e as cadeias de abastecimento mudam rapidamente. No seu entender, existem oportunidades, mas as empresas têm de estar atentas e focadas. Um dos exemplos que apontou foi o sector das baterias, que tem crescido muito nos últimos anos.



A Semana de Moldes teve início com a conferência RPD – Rapid Product Development, centrada em três eixos: indústria em transformação, inteligência artificial e computação de alto desempenho, e novas tecnologias para produtos sustentáveis.


A sessão de abertura contou com Cláudia Novo, presidente do CENTIMFE, e Fernando Alfaiate, presidente da Estrutura de Missão Recuperar Portugal – PRR, que destacou a relevância estratégica da indústria de moldes na economia portuguesa, sublinhando que o sector “tem vindo a reinventar-se”, beneficiando das agendas apoiadas pelo PRR.


Cláudia Novo reforçou a capacidade internacional do cluster, afirmando que “exportamos para mais de 80 países”, e defendendo a necessidade de alinhar competitividade, reforço de competências, compliance e presença em mercados estratégicos. “Juntos conseguimos outro alcance”, afirmou.


O painel que se seguiu analisou o impacto das iniciativas estratégicas do PRR, com intervenção inicial de Braz Costa (CTI Alliance), que destacou a importância de chegar cedo ao mercado e manter agendas abertas à inovação.


Várias agendas mobilizadoras apresentaram os seus resultados. Foi o caso da INOV.AM que, com 72 parceiros, já desenvolveu 60 produtos, desde mobiliário impresso em 3D a aplicações de cortiça para mobilidade. Uma outra, a agenda Embalagem do Futuro, apresentou soluções sustentáveis, digitais e inclusivas. Exemplos disso foram a garrafa de vidro mais leve do mundo, contentores biológicos, embalagens inteligentes e recuperadores de cápsulas. A Hi-Rev, muito centrada na transição energética, novos componentes automóveis e materiais de elevado valor. Foi também apresentada a Produtech R3, que envolveu mais de 100 participantes e 85 novos produtos/serviços desenvolvidos, muitos multissetoriais.


Num painel de debate que se seguiu, Pedro Dominguinhos, Presidente da Comissão Nacional de Monitorização do PRR, defendeu que estas agendas “não podem ser um fim em si mesmas” e que é necessária escala internacional.


Seguiram-se outros painéis, dedicados a temas relacionados com a inovação, como ‘integração da IA no design e engenharia’, e ‘novas tecnologias e produtos sustentáveis’, marcados por intervenções de especialistas internacionais. Foi o caso de Cornelia Rojacher (Fraunhofer IPT) que explicou a aposta em simulação avançada, optical design e utilização de IA para prever falhas e acelerar decisões.


Rui Tocha, do CENTIMFE, sublinhou a importância de abrir a Semana de Moldes com estes temas “decisivos para o futuro do sector”.





Pessoas


O programa debruçou-se também sobre questões organizacionais e estratégicas para o dia-a-dia das empresas. Isso foi notório no Fórum Tech-i9, realizado em Oliveira de Azeméis, que refletiu sobre inovação, cultura organizacional e transformação estratégica, reunindo especialistas e líderes industriais. Em cima da mesa, estiveram questões como a cultura de inovação contínua e as tecnologias digitais (IA, automação, análise de dados), com impacto direto na competitividade da indústria de moldes.


Nuno Silva (Moldit) considerou que a inovação tem de ser um comportamento diário, essencial para a competitividade e a sustentabilidade das organizações. Recordou que os maiores obstáculos continuam a ser a resistência à mudança, a falta de tempo e a ausência de ferramentas estruturadas, sublinhando que a cultura organizacional “começa de cima para baixo” e exige liderança ativa, exemplar e transparente. No caso dos moldes, salientou ainda a urgência de inovar no modelo de negócio.


Ana Sofia Tomás (MarsShot) questionou o estado dos processos internos das empresas, afirmando que “a formação começa na liderança”. No seu entender, a indústria está atrasada na adoção da IA e da transformação digital, sendo necessário mudar mentalidades, qualificar pessoas e reter talento.


Já Cristina Barros (Sinmetro) defendeu que o molde pode, e deve, ser valorizado como serviço, implicando novos modelos de negócio. A fábrica inteligente “deve ser totalmente conectada, com dados integrados e tipificados para identificar com precisão ganhos e perdas”, considerou.



Um outro tema em reflexão foi o papel das pessoas nas organizações. A indústria enfrenta desafios profundos, com a transformação tecnológica, transição geracional, novas expectativas profissionais e escassez de talento. A conferência Talentum Days, em Oliveira de Azeméis, reuniu especialistas em gestão de pessoas para debater como a indústria pode posicionar-se na competição global.


Mário Henriques (High Play Institute) explicou que as novas gerações têm valores distintos: procuram propósito, feedback contínuo, equilíbrio vida-trabalho, crescimento e relações saudáveis no local de trabalho. “O emprego não é para a vida”, afirmou, sublinhando a importância da gentileza e do acompanhamento próximo. Defendeu a complementaridade entre gerações como vantagem competitiva.


Sílvia Nunes (Michael Page) enfatizou a necessidade de as empresas definirem perfis, requisitos e funções para recrutar, algo ainda pouco comum, no seu entender. Alertou que as organizações também precisam de estar preparadas para ser entrevistadas pelos candidatos. Os jovens procuram salário competitivo, progressão, bom ambiente, formação e localização conveniente, mas o propósito é decisivo para ficarem, advertiu.


Eduardo Castro Marques (Dower Law Firm) considerou que construir equipas de alta performance exige uma cultura de gestão transparente, avaliação de desempenho, planos de carreira, incentivos, gestão da diversidade geracional e alinhamento entre pessoas, processos e estratégia.



Mudanças


No jantar, que reuniu cerca de 70 participantes em Oliveira de Azeméis, o presidente da CCDR-Norte, António Cunha, abordou o tema “Desafios em tempos de mudança”. Comparando o momento atual ao século XVII, o orador defendeu que estamos no centro de uma nova revolução científica impulsionada por temas como a IA, carros elétricos, materiais especiais, computação quântica e genética. No seu entender, a sustentabilidade é essencial, mas “a Europa não pode cumprir sozinha”.


Analisou ainda a transformação digital e os novos modelos de negócio e destacou a necessidade de as empresas criarem valor acrescentado. Para a indústria de moldes, defendeu como caminhos a aposta em novos mercados, como a saúde, aeroespacial, micro e nanotecnologias, bem como o repensar modelos de negócio, como, por exemplo, o ‘mold as a service’.


A indústria precisa, concluiu, de ultrapassar desafios como a dependência do automóvel, a concorrência desleal e a escassez de mão de obra, focando-se nas oportunidades emergentes.


Agenda

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